Se você perdeu, essa história começa AQUI A saudade é um sentimento que persiste na vida de qualquer imigrante. Eu entendia o que minha mãe estava sentindo. Além da dor física causada pelo Herpes Zoster, tinha o dilema interno. Ela estava feliz por me ver realizar um sonho em família e ao mesmo tempo estava triste de nos ver partindo. Não tem remédio nesse caso. Era, e ainda é, difícil pra todo mundo. Mas mesmo sofrendo eles me apoiaram e NUNCA me pediram pra voltar. E por falar em voltar, muitos me perguntam. Vocês voltariam pro Brasil? Bom, viemos com a intenção de ficar aqui por 2 anos e meio e ver como as coisas iriam acontecer. Voltar para o Brasil pode ser uma opção, quem sabe. É lá que estão nossas raízes. Mas no momento não é uma vontade nossa. E vocês lembram que lá nos primeiros capítulos eu comentei que não consigo fazer planos a longo prazo? Pois é, não consigo. Nós temos alguns planos pros próximos 3-4 anos, mas nada muito longo e definitivo ainda. Muita coisa pode mudar. Sem contar que essa sensação de superação, de mudança e de desafios é viciante. E era essa sensação que nos sustentava nas últimas semanas no Brasil: Viver o NOVO novamente. Os últimos dias foram de corre-corre, mas também foram de muitos abraços, muitas mensagens, muita cachaça nas despedidas e muita ansiedade. Eu estava tão ansiosa que pra dormir só tomando remédio. Lembro que um dia antes da viagem eu me sentei na frente das 6 malas e pensei: Uma vida aí dentro! Eu me questionava por que vivi tanto tempo com tanta coisa, por que gastei tanto dinheiro, por que decorei tanto a casa, por que troquei tantos móveis... nada disso estava ali naquelas 6 malas. E por que tantos brinquedos pra Giovana se no final só tinham alguns bichinhos de pelúcia. Trouxemos o básico: Roupas (1/3 do meu guarda-roupa), remédios, panela de pressão, abridor de lata, paninhos de chão (os do Brasil são os melhores!), cuscuz, farinha, goiabada e tapioca. Pronto! Agora era a hora de partir. Tinha chegado o grande dia! 17 de Abril de 2017. O dia que mudaria por completo a minha vida. O dia que eu viveria tudo que sonhei e planejei. Mas ainda bem que naquele dia eu não me preocupei em imaginar como eu estaria 1 ano depois vivendo na Nova Zelândia, senão... eEmbarcamos!! 6 malas de 23 kg e muita vontade de viver tudo aquilo que tínhamos sonhado. Eu não estava mais com medo. Na verdade eu estava vivendo o primeiro momento do ciclo de um imigrante. Você já escutou falar da Curva de U?? A teoria da Curva em U considera que o processo de adaptação a uma nova cultura passa por quatro fases:
Nós estávamos na fase de Lua de Mel que é caracterizada pelo encantamento com a nova cultura e a fascinação com tudo que o novo nos apresenta. Parecida com a sensação que o turista tem. Quanto maior é o seu desejo de morar fora, maior será o tempo que você passará nessa fase. Isso explica, um pouco, porque para os filhos que estão acompanhando seus pais, essa fase passe tão rápido. Geralmente as crianças entram na fase do choque cultural primeiro, e consequentemente, do ajuste tambem. Convenhamos que ter a Nova Zelândia como cenário da nossa fase de Lua de Mel colaborou demais para essa fase durar bastante. E durou. Mas o fato era: embarcamos sem ter a mínima ideia dessa teoria das fases E não nos preparamos nem um pouco pra isso. E não entender esse processo antes de embarcar foi um dos grandes erros que cometi. Mas antes de falar sobre tudo de bom que aconteceu na nossa “Lua de Mel” com a Nova Zelândia, é preciso falar sobre o outro lado da moeda, é preciso mostrar que por trás de belíssimas fotos em Instagram ou redes sociais, existe uma vida real cheia de altos e baixos. É preciso mostrar que às vezes você deseja ou julga a vida de outra pessoa baseado apenas no que vê momentaneamente. É preciso mostrar que tudo isso não é excesso de dinheiro ou de felicidade. E é preciso mostrar que eu, infelizmente, depois de 1 ANO, esqueci da coragem que me fez cruzar o oceano e largar o conhecido para encarar o desconhecido. Esqueci de tudo que me motivou. E quando isso aconteceu comigo, pensamentos negativos começaram a cegar todas as minhas vitórias e eu entrei na pior fase: A fase do Luto. Isso, depois de 1 ANO vivendo aqui. E o que você fez pra sair disso? Bom eu comecei uma coisa que nunca na minha vida eu pensei que iria fazer... Entrei na fase do luto um pouco antes de completar 1 ano aqui na Nova Zelândia. Foi uma sensação estranha. Mas como seria essa fase? A fase Choque cultural ( Luto) surge quando o sujeito se depara com as dificuldades de ser um imigrante. Essas experiências vão desde a dificuldade com o idioma até a mudança de papéis sociais, como por exemplo um profissional com uma carreira estabelecida no Brasil passar a trabalhar como cleaner. Com o passar do tempo, toda a dificuldade parece não ter solução. Independente da pessoa, a resiliência pessoal e familiar é desafiada. Isso tudo é intensificado pela sensação de não pertencimento ao lugar. No início é raro para o imigrante ter o mesmo status pessoal e profissional que tinha em seu país de origem. Este geralmente é o estágio onde a depressão acha terreno para se desenvolver. É onde muitos migrantes percebem que esta será sua nova vida Eu não me conformava de ter esses pensamentos, achava um absurdo! Eu não entendia...até descobrir que não tem nada de errado nisso, faz parte! “ Fazer o luto do lugar que deixamos é um processo doloroso. A dor precisa existir e não ser ignorada. Se o luto é ignorado, a tendência é que retorne a superfície em momentos críticos.” Por outro lado, meus pais estavam chegando e eu me enchi de esperança. Mas eu precisava fazer algo mais. Bom, procurei ler a respeito e me deparei com essa frase “Antes de mais nada, gostaria que se lembrasse do momento que voce teve a coragem de tomar a decisão e partir” Era isso! Relembrar os motivos que me fizeram estar aqui, vivenciar cada lembrança, cada questionamento. . Foi exatamente aí que me veio a ideia de fazer uma coisa inusitada: Escrever minha história! Me expor! Contar tudo que me fez chegar até aqui. Escrever sobre mim e sobre minha família. Mas daí aconteceu o inesperado: Vocês gostaram! Me apoiaram, me mandaram mil mensagens, vivenciaram minhas loucuras, se emocionaram, riram...vocês me encheram de carinho! Cada mensagem recebida, era um estímulo pra eu sair daquele quadro de ansiedade e angústia. Eu nunca imaginei que expor minha vida em capítulos fosse me ajudar tanto. E não só ajudou como mostrou caminhos. Pois é foi escrevendo que eu consegui amenizar minhas angústias, meus medos... Mas vejam, vou dizer uma coisa: Eu NUNCA me arrependi de ter saído do Brasil. Faria tudo novamente. Eu sinto muitas saudades da minha família, dos meus amigos, da minha cultura. Sinto saudades do meu país. Mas eu não estou arrependida, nem nunca estive. Por isso que as vezes eu rejeitava tanto a fase do luto. Eu tinha a sensação de estar reclamando de barriga cheia e não era isso. O curioso é que hoje eu consigo enxergar que tanto a Gio como o João também tiveram a fase do Choque cultural. Mas cada um em um momento diferente. O fato é, não deixe que ninguém te diga que, aos 39 anos, você tá velho demais pra arriscar algo novo. Ou que alguém te diga que depois da faculdade você deve casar, ter filhos , comprar uma casa...Não , não! Não estipule idade para você realizar seus sonhos. Hoje mesmo o marido, conversando com um amigo nosso que estava com receio de arriscar a estabilidade profissional e financeira, disse: - Eu também tinha medo! Eu não acreditava que existia vida fora do “Meu trabalho” . Eu achava que dali Eu não sairia nunca. E acredite, existe vida!! Ok, uma vida trabalhosa, mas qual não é né? Enfim, e eu não podia terminar esses capítulos sem agradecer a todos que acompanharam essa novela que é a minha vida. Muito, muito obrigada! Vocês me ajudaram tanto! Agradecer também aos meus pais por serem meu porto seguro e minha base. Agradecer a Gio por ser meu motivo maior. E agradecer ao marido que lia cada capítulo antes de ser publicado e que reviveu cada momento comigo. Agradecer por ele ter o sonho de morar nesse país tão fantástico! País que me proporcionou experiências incríveis. E tanta coisa aconteceu nesse primeiro ano por aqui. Teve a adaptação da Gio na escola, quando soltei ela lá no primeiro dia sem ela falar quase nada em inglês. Teve o meu curso de inglês gratuito, teve os desafios do curso do João. Ah, teve o meu primeiro trabalho. Teve choro da Gio pedindo pra voltar, teve os 6 meses nos apts da SIT, teve nossa primeira casa... Bom, mas aí já é assunto pra outra novela. Quem aguenta??? Querem acompanhar mais dessa família na Nova Zelândia? Sigam o A Malinha da Gio no Facebook e Instagram Leia Também:
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Setembro 2018
AuthorRevista Mundo Brasileiro Aotearoa, a revista dos brasileiros na Nova Zelândia Categories
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